Autoengano

Se acredita ser carente, é inevitável que você espere receber alguma coisa do outro. Inevitavelmente, você cria expectativas. Isso é um grande problema, porque, por mais valioso que seja, você não tem garantias de que receberá o que quer. Por mais que seja hábil para convencer o outro a dar aquilo que você acha que precisa receber, você não tem garantia de que ele vai corresponder à sua expectativa.

Embora tudo que você procura fora de si mesmo esteja em seu interior, você não consegue enxergar essa realidade. O Ser que te habita é completo, ele não é carente de nada, mas a sua percepção encontra-se limitada por condicionamento e crenças, então não consegue perceber essa realidade. E por causa disso, você se torna um mendigo que, para receber uma migalha de atenção, vende a alma. Finge ser algo que não é; usa m’sacaras para agradar e receber um pequeno olhar, um pequeno carinho. Dessa forma, desperdiça a vida tentando forçar o outro a amar você. Esse é um estado de aprisionamento, de dependência profunda, que gera raiva. E essa raiva se volta contra você mesmo.

Você sente raiva porque, de certa forma, sabe que está vendendo a si próprio. Está se vendendo em troca de que? Certa vez alguém estava julgando a prostituição e meu mestre pensou: quem neste mundo não paga por sexo? Pelo menos as profissionais do sexo deixam o preço bem claro. Com esta reflexão ele gostaria de nos proporcionar a reflexão sobre quem não pago por sexo? Quem não paga para receber um carinho? Talvez não sejam com dinheiro diretamente, mas paga com coisas muito mais valiosas.

Estando envolvido pela ideia de carência, você paga com a sua espontaneidade e com a sua liberdade. Deixa de ser quem realmente é e se especializa em ser qualquer coisa que roube a atenção do outro. Você se especializa em tirar energia do outro e desenvolve estratégias para mantê-lo na sua mão. Isso é uma grande prisão.

As vezes para chamar a atenção, você usa a máscara da vítima: “eu vou me revoltar se você não olhar para mim.” Às vezes a máscara do autossuficiente: “Eu não preciso de você. Eu sou forte e dou conta da vida sozinho.” E as vezes você, simplesmente, é indiferente: “Não estou nem aí, estou acima disto tudo.” Esses exemplos são padrões clássicos, mas cada um deles tem infinitas possibilidades. Eles são apenas uma amostra daquilo que você faz para conquistar, dominar e manipular o outro de acordo coma sua necessidades de ser amado. São estratégias para forçar o outro a amá-lo, porém isso é impossível, porque o amor verdadeiro só pode ser dado de graça. Mesmo quando somos bem-sucedidos nesse jogo e conseguimos a atenção do outro, sabemos que não foi espontâneo. Então não confiamos e nos sentimos inseguros, frustrados e continuamos criando novas estratégias.

Este é um círculo vicioso que tem como principal característica a necessidade de amor exclusivo. Não basta ser atendido nas suas expectativas, não basta ser amado. Você tem que ser amado com exclusividade. Tudo tem que ser para você. A pessoa que está com você não pode olhar para o lado. Ela precisa olhar para você 24 horas por sai. Nesse caso, como confiar e relaxar? Não é possível estar no controle o tempo todo.

Perceba como este jogo é uma grande escravidão. Mas essa escravidão é criada pela mente para sustentar a falsa identidade. É o falso eu que acredita na carência. Ele acredita ser um mendigo e se torna um pedinte de atenção. E isso gera o que é, de fato, a maior miséria do ser humano: a carência afetiva. Essa é uma doença emocional que distorce a percepção da realidade. E nessa realidade limitada criada pelo ego, você depende da aprovação, do reconhecimento e da consideração do outro. Costumamos acusar o outro pelas nossas misérias. Precisamos aprender a assumir auto-resposabilidade.

Um outro autoengano está relacionado com o sucesso. A final o que é ter sucesso?

Para mim o verdadeiro sucesso tem haver com realizar as coisas com propósito. Muitos ainda condicionam o sucesso a conquistas materiais, ou seja, se você tem dinheiro, um bom cargo, ou algo do tipo, você tem sucesso. Não há nada de errado ter muito dinheiro ou um bom cargo mas muitas vezes as pessoas estão realizadas externamente e vivem como se estivessem vazias e frustradas. O que ocorre é que o ego se especializou em determinada coisa, aprendeu a se mover no mundo e com isso conquistou sucesso material. A pessoa se tornou especialista no fazer, mas não no ser. Entretanto, a completude somente é alcançada quando o ser e o fazer se alinham e se equilibram. Esse alinhamento ocorre quando o nosso propósito interno se manifesta externamente.

Muitas pessoas estão constantemente insatisfeita, querendo mais, pois nada pode preencher o vazio de não sermos quem somos. Mas durante um período não temos a consciência disso e acabamos construindo toda a nossa vida com base nessa identidade forjada. E a partir dela conseguimos muitas coisas. Podemos construir verdadeiros impérios, conquistar muito sucesso, fama, dinheiro e poder, mas não podemos conquistar a verdadeira felicidade. Isso que estamos conversando não é novidade. Aliás é um senso comum que “dinheiro não traz felicidade”. Mas o fato é que no fundo acreditamos que a felicidade vem dai.

Então nós lutamos pelo dinheiro e, dessa maneira, até conseguimos uma certa alegria, mas uma alegria passageira, tão frágil quando uma chama ao vento. Essa é uma felicidade sazonal, que vem e vai de acordo com a tendência da estação, de acordo com a moda. Você compra um carro novo, e isso te faz muito feliz até o momento em que um novo modelo é lançado, ou até o momento em que o seu colega compra um carro melhor. Se a sua felicidade depende de algo externo, se tudo que você conquista é para ser importante para o outro, isso não é felicidade, é dependência.

A verdadeira felicidade só pode nascer daquilo que é real, do que permanece. E aquilo que é real nasce da plenitude interior. É quando podemos nos sentir completos por sermos o que somos. E isso só possível quando podemos manifestar nosso propósito. Esse é o verdadeiro sucesso = é um sentimento de satisfação, de preenchimento, de estar no lugar certo. Quando isso acontece, nos harmonizamos com o fluxo da vida e, naturalmente, temos nossas necessidades atendidas. Tudo melhora, inclusive a vida material. A prosperidade, quando é fruto de um encontro consigo mesmo, é um presente divino que está a serviço de um propósito maior.

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