Deixando os problemas para trás

Ficamos tão presos a nossos sentimentos de correção, de certeza, de irritação, cinismo e afins, que esquecemos que podemos sentir de modo diferente.

Ficamos tão presos a nossos sentimentos de correção, de certeza, de irritação, cinismo e afins, que esquecemos que podemos sentir de modo diferente.
Essa “prisão emocional” que nós mesmos criamos nos leva a perder inteiramente a fé no amor duradouro, no comprometimento e na paz. No início, o desprendimento parece uma tarefa temerária, até impossível. A sensação é de que passamos de um problema para outro, e assim sucessivamente. Preste atenção no seu dia-a-dia: é um problema atrás do outro, do qual obviamente desejaríamos nos livrar, mas raramente conseguimos.
As dificuldades são tão importantes para a vida das pessoas que acabamos definindo os que nos rodeiam a partir de seus problemas. Preste atenção quando estiver conversando com os amigos sobre alguém do grupo que não está presente. Quer de modo positivo, quer negativo, os problemas dessa pessoa serão realçados.
Isto também acontece com nossa auto-imagem. Temos a tendência a pensar em nós, até mesmo no significado da vida, do ponto de vista das dificuldades que vivemos.
Todos nós já ouvimos falar de alguém que enfrentou uma terrível tragédia em relativa paz. No entanto, existem pessoas que mal conseguem lidar com a rotina e se sentem massacradas pela vida.
Os problemas nos atingem na medida da nossa preocupação. A chave para se alcançar a fluidez, o repouso e a liberdade interior não é a eliminação de todas as dificuldades externas, mas sim o desapego ao padrão de reação a essas dificuldades.
As crianças nos surpreendem quando conseguem expressar a felicidade mesmo vivendo em situações precárias ou em lares violentos. Em geral, são necessários muitos anos de trauma físico ou emocional para que este sentimento seja realmente destruído.
Pesquisas mostram que, mesmo em zonas de guerra, campos de refugiados ou áreas de fome, grande parte das crianças mantém sua capacidade de brincar e ser feliz em meio a circunstâncias de horror impensável.
Para perceber a diferença entre a maneira como adultos e crianças abordam a vida, não é preciso ir muito longe —
Uma criança não distingue o valor de um brinquedo pelo preço ou material do mesmo. Ela brinca com uma pedrinha, independente se é de outro ou sem qualquer valor agregado a mesma.
Copiar a abordagem infantil da felicidade não é se comportar como uma delas, mas sim ver o mundo como elas veem. É abandonar as percepções estreitas e as respostas prontas. É admitir sem restrições que as pessoas à nossa volta são o que são e que estamos ali com elas para o que der e vier.
Transformar-se numa “criança” é abrir mão da responsabilidade de julgar e de estar certo em todos os momentos. Isso elimina os bloqueios e permite a ampliação de nossa capacidade de apreciar qualquer coisa ou, pelo menos, de estarmos serenos e em paz.

Existem três coisas que você precisa abrir mão: julgar, controlar e ser o dono da verdade. Livre-se das três, e você terá a mente íntegra e vibrante de uma criança.

A principal característica das crianças pequenas é sua objetividade: elas mostram o que sentem e sabem o que querem. Claramente, elas estão ligadas à sua essência, seu instinto. Mas as crianças não são perfeitas ou invulneráveis. Na verdade, elas captam as lições positivas e as negativas que lhes são ensinadas e parecem escolher, principalmente, os medos inconscientes e as ansiedades dos adultos que estiverem a seu redor.
Mesmo que você, quando criança, não gostasse de determinada opção de vida escolhida por seus pais e tenha até decidido que não cometeria esse erro quando crescesse, certamente se flagrou, já adulto, dizendo as mesmas palavras ou agindo da maneira que queria evitar. Isto mostra como somos vulneráveis quando crianças.
Existem crianças que aprendem a ter suas próprias opiniões e até a sentir ódio, numa idade surpreendentemente precoce. Se você já viu isto acontecer, sabe que elas já perderam contato com sua felicidade e autoconfiança natural. Elas aprenderam a duvidar dos outros e aplicam essa lição em si mesmas. Se elas não são confiáveis, ninguém mais o é.
Só quando crescemos nos tornamos conscientes do que significa incorporar comportamentos e depois abrir mão deles. É a única maneira de assumirmos a responsabilidade pela paz e pelo bem-estar de nossas mentes.

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